Folha de São Paulo, em 25/09//2013
Contra todas as expectativas, aí estão os dados da recuperação econômica brasileira no segundo trimestre do ano, encerrado em junho.
Os índices mais importantes da nossa alavanca de prosperidade mostram o avanço das exportações em 6,9%, contra 0,6% das importações, e os 3,9% do avanço agropecuário e 3,6% do investimento de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O total da expansão do PIB (Produto Interno Bruto) em todas as frentes – de 1,5% – só rivaliza como do primeiro semestre de 2010. E já se começa a apostar no avanço dos empregos, travado pela expansão dos serviços, ainda moderada, nesses dias.
O reflexo político dos novos dados reforça a subida de Dilma, após o anticlímax do último mês, e mesmo antes das boas-novas.
E é o que entremostra, a partir de Eduardo Campos, a dificuldade das candidaturas dos governos do Nordeste de se dissociar do situacionismo. As dificuldades de Marina e sua Rede, por sua vez, sugerem mais que o emperro burocrático.
Impressiona, ao mesmo tempo, como a oposição se exime, nos aspectos conjunturais, dos desvios e erros do regime. Insiste, sobretudo, na crítica à corrupção e na tônica inevitável do moralismo, mote que só alcança as nossas classes médias.
Aí está o “povo de Lula”, saído diretamente da marginalidade nesta última década, sem uma memória prévia de seu alinhamento político, e, hoje, integrado na redistribuição da riqueza nacional.
Avulta, ao mesmo tempo, como essa chegada ao poder não envolveu, também, uma renovação de lideranças para as novas disputas eleitorais. A solidez da continuidade criou uma instalação no poder, descentralizada, ainda, pela multiplicidade das alianças nos distintos quadros estaduais, garantindo o camaleonismo peemedebista.
É um horizonte polarizado o que se divisa para 2014. Claro, pesa contra o sistema, em governos democráticos, esta mais de década inédita de permanência de um mesmo grupo partidário no Planalto.
E a continuidade petista, absolutamente democrática, confrange o imperativo desses regimes políticos amadurecidos de uma rotação no comando do regime.
Mas o Brasil, em termos de consciência histórica, mal entrou na cultura da modernização. O que estão em causa são alvitres de uma sociedade política, de fato, em mudança. E, em países como o nosso, a percepção do desenvolvimento não como um progressismo inócuo, mas, de fato, como o radical deslocamento de sua inércia.
O petismo nasceu, ineditamente, de uma ruptura com o status quo, numa opção política fundadora. Por força, são inevitáveis as entorses e os desgastes de uma longa permanência no poder, mas esses não vulneram a escolha do Brasil saído da marginalidade, num marco de época, e a força de sua consciência emergente, a responder à frase de San Tiago Dantas: “Em nosso país, o povo enquanto povo é melhor do que a elite enquanto elite”.
Presidente do Senior Board do Conselho Internacional de Ciências Sociais – UNESCO, Membro da Academia Brasileira de Letras e da Comissão de Justiça e Paz.